Túnel do Marão é um atentado ambiental

Quando, em 7 de maio de 2016, o primeiro-ministro António Costa subiu, de carro, o troço da A4 entre Amarante e Vila Real, fê-lo tranquilamente, sem ter encontrado qualquer “obstáculo” ao longo do percurso. Mas não era isso que estava planeado. Se tudo tivesse decorrido como fora pensado nos dias anteriores, iria ser confrontado com manifestações de desagrado pela construção do chamado “Túnel do Marão”, que causou inúmeros e graves impactos ambientais na serra e cujas obras decorreram no maior desrespeito para com as populações. 

As televisões estavam avisadas para as manifestações de desagrado planeadas e a sua mediatização daria força às reivindicações das populações e responsáveis pelo baldio, mas, à última hora, o recuo de uma entidade institucional inviabilizaria os protestos. E, assim, António Costa nem sequer chegou a ver uma lona que atravessava a faixa ascendente da autoestrada, na qual estava escrito que o túnel era um “atentado ambiental”. Colocada ao final da manhã, a lona foi retirada pouco depois por agentes da GNR, porventura avisados pelos homens do primeiro ministro que não quereriam a festa manchada por “tonterias” de gente preocupada com “minudências” ambientais.

E que “minudências” eram essas? A seca do ribeiro da Marinheira, que, antes da existência do túnel, era um curso de água permanente; o corte e desvio de linhas de água e a possibilidade, atestada por estudo científico coordenado pelo Professor Fernando Esteves Costa, de o volume de água captado pela construção do Túnel poder levar à diminuição das reservas de água anteriormente acumuladas no interior da serra, dando início ao  processo de esgotamento do aquífero que abastece as linhas de água da vertente ocidental do Marão, com consequências que facilmente se adivinham. A confirmar-se esta possibilidade, poderá estar em causa, por exemplo, o bastecimento do Viveiro das Trutas.

Mas os prejuízos para a baldio de Ansiães e sua população não se ficam por aqui.  Podem acrescentar-se cortes de caminhos florestais, agrícolas e de servidão, sem que fossem criadas quaisquer alternativas; deterioração da rede viária da freguesia; dificuldades de acesso a nascentes e minas de água, utilizadas na rega; má drenagem de águas pluviais, que fez perigar vidas e bens ou arrastamento de terras.

Tudo isto, sem que alguma vez alguém de espirito desinteressado haja percebido porque se optou por ligar Amarante a Vila Real por auto-estrada, atravessando o Marão num percurso que, na maior parte da sua extensão, é paralelo ao IP4. A outra opção que no início dos anos 2 000 esteve em cima da mesa (de quatro possíveis) era a que fazia a auto-estrada seguir por Carneiro, Teixeira, Mesão Frio e Régua, indo desembocar na A24 em Santa Marta de Penaguião. Esta opção tinha muitos menores custos de construção e ambientais, mas foi preterida. Sabe-se lá porquê! 

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