Este país não é para velhos?

É. Mas não!

Há algum tempo que cito o título do filme dirigido, em 2007, pelos irmãos Cohen… na afirmativa. E não é só por olhar para dados e estatísticas. É verdade que já há um ano que o INE veio confirmar que o número de idosos portugueses passará dos actuais 2,1 milhões para 2,8 milhões em 2080. Enquanto isso, a população com idade inferior a 15 anos continuará a diminuir e chegará, nesse mesmo ano, ao redutor 1 milhão. Praticamente um terço menos.

São análises e projecções que continuam a fazer pensar, com Portugal a caminhar para ser dos países, se não o país, mais envelhecido da Europa.

O que me preocupa? As duas realidades.

A começar pelos adolescentes de hoje. Não só são bem menos do que aqueles que nós éramos quando tínhamos 16 ou 18 anos, como, na sua grande maioria, estão já a olhar para o mundo. O seu futuro escreve-se sem fronteira. O mercado de trabalho não se reduz à cidade ou país onde cresceram. Não há limitações físicas nem grilhetas emocionais. Há a vontade de viver e conhecer, de partir e experimentar, de viajar e aprender. Não há empregos para a vida nem desenhos de carreira. Assim como o sonho de família é realidade ainda esfumada num futuro que se quer longínquo. Precisamente depois de conhecerem, partirem, experimentarem, viajarem e aprenderem!

Depois há os “50+”, a tal população acima dos 50 anos estudadamente com mais tempo livre, maior disponibilidade financeira, com cabeça e alma de 30 e um gosto por experienciar e conhecer. Mas que, se ficar sem emprego, talvez com sorte, e alguns amigos, consiga reintegrar uma vida profissional. Porque não há anúncios para mais de 40. Assim como não há quem se lembre da importância dos “cabelos brancos” para uma empresa.

E, por fim, há os mais idosos ainda. Os que merecem a tranquilidade dos dias mas que a têm, tantas vezes, com uma qualidade bordada em jeito de interrogação. Os que vivem isolados ou em solidão. Os que assistem ao passar das horas em lares, longe, porque só esses se consegue pagar.

Mas os que nos passaram histórias e ajudaram a preservar a História; os que mantiveram vivos provérbios e lendas; que sempre assinaram artes e ofícios; cozinharam receitas e sabores de gerações; e garantiram uma cultura de povo que nos continuará a distinguir amanhã.

Sim, em apenas duas décadas, o número de pessoas com 80 ou mais anos duplicou em Portugal. Destes, 28.279 estão a viver sozinhos (dados 2017), o que é mais de metade do total da população idosa sinalizada e quando, em 2016, este número se ficava nos 26 mil.

Pois, não sei se este país é para novos. Mas para os que já o são menos, isso tenho uma grande dúvida…

 

M.ª João Vieira Pinto

Directora de redacção das revistas Marketeer e Executive Digest

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