Casa-Museu celebra vida e obra de Acácio Lino

A Casa-Museu Acácio Lino abriu portas ao público em 2007 graças ao esforço e dedicação de um dos seus descendentes. O projeto, que visa celebrar e, sobretudo, relançar a figura daquele artista natural de Travanca, esteve a “meio-vapor” durante vários anos, contudo. Atualmente, há novo investimento para relançar a Casa-Museu em 2019.

Entre o 25 de abril de 74 e o Verão Quente de 75, o saneamento político de figuras contemporâneas ao antigo regime espalhava-se ao Porto e a outras cidades. Várias instituições removiam das suas exposições trabalhos de escultores e pintores que, até há bem pouco tempo, eram considerados artistas de renome.

Rui Brochado, na altura aluno de Arquitetura na Faculdade Belas Artes do Porto, assistiu, atónito, à remoção de obras de Acácio Lino de Magalhães, seu tio-avô e artista natural de Travanca, das paredes de própria instituição onde serviu como um dos seus mais aclamados diretores.

“Também aconteceu no Museu Soares dos Reis, no Porto, e até no de Amarante. As obras de Acácio Lino e outros artistas (aquelas que escaparam à destruição) acabaram ser retiradas e armazenadas. Algumas permaneceram enroladas até há bem pouco tempo”, explica. Ainda hoje, acredita que estes atos (incluindo o incêndio que destruiu a casa do artista, no Porto) foram nada mais que uma tentativa de “apagar o seu nome”.

“Para mim, foi um choque muito grande. A partir dessa altura decidi que um dos objetivos na minha vida seria a de relançar a figura do meu tio-avô, pessoa de quem tenho as melhores das recordações de infância”, acrescenta.

Casa-Museu realça obra e espólio do pintor

Após um investimento que visou a recuperação do edificado e do espaço de trabalho do artista e docente, a Casa-Museu Acácio Lino abriu as portas ao público em 2007, pela mão de Rui Brochado. Instalado na Casa das Figueiras (habitação projetada pelo próprio Acácio Lino), em Travanca, o projeto visava divulgar a imagem do artista num espaço acessível e profundamente ligado aos grandes temas da sua obra, nomeadamente a Natureza e a vida rural.

O projeto oferece um alargado e variado leque de atividades orientadas para públicos diversificados, nomeadamente visitas organizadas à Casa-Museu, jardins e atelier do artista. Aqui também se realizam tertúlias, workshops e outras atividades orientadas, na sua maioria, pela mesma temática prezada pelo artista.

“Acácio Lino foi um raro semeador de Cultura e assim o pretende ser a Casa-Museu, que o lembra e homenageia”, explica Rui Brochado.

Rui Brochado, descendente de Acácio Lino

Porém, equilibrar a atividade com o que era, e continua a ser, a residência dos descendentes de Acácio Lino, não foi fácil. Problemas de saúde na família ditaram a “limitação de atividades aqui realizadas durante alguns anos. Foi uma altura complicada, particularmente para a minha mãe”, explica o proprietário, adiantando que o projeto foi retomado em 2016, mas de forma faseada.

O processo de renovação e restauração de alguns dos espaços está hoje em curso, avança, acrescentando que espera ter tudo pronto para, em abril de 2019, formalizar a “rentrée” da Casa-Museu Acácio Lino. Mas o projeto não se esgota aqui, assegura, revelando que pretende realizar uma série de intervenções nos amplos espaços da quinta e alargar a oferta turística, particularmente no ramo do turismo cultural.

“Para o futuro temos outras ideias, nomeadamente aumentar a oferta de alojamento e construir um restaurante, ambos orientados pela temática da cultura e das artes”, conclui.

Acácio Lino: filho da terra e génio nas artes

Aos seis anos de idade, Acácio Lino de Magalhães revelou um precoce interesse pelas artes. Filho de Rodrigo Pereira da Costa Magalhães e de Maria do Carmo Pinto de Carvalho, nasceu a 25 de fevereiro de 1878 na Casa da Pedreira, em Travanca. Aos doze anos, rumou ao Porto, onde se instalou na casa de um dos seus irmãos.

Anos mais tarde, para grande desgosto do pai, desistia da Medicina em favor das Artes. Mesada cortada, Acácio Lino, na altura a frequentar a Academia Portuense de Belas Artes, vendia retratos e recebia apoio de amigos e parentes.

Em abril de 1904 ruma a Paris no âmbito de uma bolsa do Estado. Ali conviveu com contemporâneos seus, nomeadamente Malhoa e Marques de Oliveira. Viaja por vários países, mas é em Portugal onde assenta como docente na Escola de Belas Artes do Porto, mais tarde viria a ser diretor.

Na Casa das Figueiras pintava telas naturalísticas, históricas e religiosas, retratos e ainda esculpia. O seu trabalho está patente em diversos museus e outras entidades, nomeadamente no Museu Militar de Lisboa, no Palácio de São Bento e no Museu Amadeo Sousa Cardozo, em Amarante.

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